Talvez esteja nessa credulidade
uma explicação concreta para o conformismo e a índole cordata atribuídos ao
nosso povo, do qual frequentemente se critica a insuficiente cobrança de
melhores serviços públicos, de maior transparência e eficácia dos gastos
governamentais, do fornecimento de produtos e serviços de melhor qualidade
pelas empresas e de comportamento ético e transparente por parte de políticos, companhias e
organizações de todo tipo.
Contrastando com o ceticismo
daqueles outros povos, a pesquisa mostrou que os brasileiros confiam mais que eles em quase todos os
profissionais, com exceção dos policiais, única categoria em que nós
acreditamos menos. Até nos políticos, unanimemente os últimos colocados na
tabela, nós cremos mais que eles (19% contra 17%).
Nessa pesquisa que
entrevistou mil pessoas no Brasil e 17.295 em países da Europa e nos Estados
Unidos, os bombeiros, os mais críveis de todos (97% a 94%), são seguidos pelos
carteiros, professores do ensino fundamental e médio, médicos e pelos
militares. Em todas essas categorias nós acreditamos mais que os europeus e
americanos, mas estamos próximos, sempre acima de 80%.
As maiores discrepâncias
aparecem quando se fala nos publicitários e nos profissionais de marketing. Enquanto,
nos primeiros, nós acreditamos 43% mais que os outros povos, os marqueteiros
gozam, no Brasil, de 38% a mais de credibilidade que na Europa e EUA.
Os jornalistas vêm a seguir na
tabela da credulidade nacional. Nossa confiança neles é 35 pontos percentuais
superior à que eles possuem entre os outros povos pesquisados (79% a 44%).
Em seguida, nessa relação de
discrepâncias, aparecem os diretores de grandes empresas. Essa menor confiança
de europeus e americanos nos executivos se deve, sem dúvida, à crise financeira
que atingiu o mundo em 2008, flagrantemente causada pelos desmandos e abusos
que partiram de Wall Street e contaminaram todas as economias do mundo – mas com efeitos menores por aqui, graças a melhor controle do sistema
financeiro e à pujança do mercado interno brasileiro.
Depois dos executivos, na
lista de nossa maior credulidade, surgem os pesquisadores de mercado: no Brasil
81% acreditamos neles, enquanto Europa e Estados Unidos lhes atribuem apenas
54% de confiabilidade. E as ONGs ambientais vêm depois, com 82% dos brasileiros
confiando nelas, enquanto só 65% de europeus e americanos lhes dão crédito.
Os policiais é que andam mal
no Brasil, em comparação com o mundo desenvolvido. Única categoria em que nós
acreditamos menos, 76% dos europeus e americanos confiam na polícia, enquanto
sua credibilidade junto aos brasileiros só alcança 59%.
Uma conclusão que se pode
tirar de tudo isso, claro, é que somos todos uns trouxas facilmente
embrulháveis. Mas me parece que o lado positivo dessa nossa tendência a confiar
no outro e da nossa ausência de irredentismo é que possuímos um poderoso
potencial para unir a sociedade civil em movimentos construtivos para melhorar
a qualidade da vida da população.
Temos moral, por sermos crédulos
e por termos fé nos concidadãos, para nos unirmos eficazmente em iniciativas em
prol da ética, da conservação ambiental, da solidariedade, da responsabilidade
empresarial, governamental e política, da sustentabilidade.
Polianismo? Utopismo? Idealismo?
Pode ser, mas isso é totalmente mau?
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