domingo, 6 de outubro de 2013

RP e Sustentabilidade, na Empresa e na Força Armada

A convite do Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias do Exército Brasileiro, apresentei há poucos dias, na Semana de Comunicação Social/2013, que teve o tema geral "Estratégias de Relações Públicas diante dos Desafios da Contemporaneidade", a palestra que transcrevo a seguir.

Relações Públicas, Sustentabilidade e
o Papel Social das Organizações


Para esta reflexão escolhi o tema “Relações Públicas, Sustentabilidade e o Papel Social das Organizações”.

Fiz essa escolha porque, no contexto do tema geral desta Semana de Comunicação Social/2013 (Estratégias de Relações Públicas Diante dos Desafios da Contemporaneidade), acredito que adotar o valor Sustentabilidade e praticá-lo é um caminho sem volta e um grande desafio para todos nós.

E isso me parece ser verdade tanto para as empresas como para as organizações públicas, governos, partidos políticos, famílias e até para as pessoas individuais.

E também para as Forças Armadas, notadamente o Exército, porque seus integrantes atuam em terra, em convívio próximo com as pessoas, as comunidades e o meio ambiente.

Mas o que significa realmente essa palavra “Sustentabilidade”, que recentemente se tornou tão frequente nas várias línguas da humanidade?

Por que isso aconteceu? E por que esse termo passou a ser tão importante para todas as organizações e pessoas no século 21?

Originalmente a definição de Sustentabilidade é “assegurar, pela maneira como nos comportamos hoje, melhor qualidade ambiental, econômica e social para as próximas gerações”. 

Essa definição vem da Comissão Brundtland da Organização das Nações Unidas, sob a presidência da ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que entre 1983 e 1987 se concentrou no estudo do meio ambiente e sua relação com o progresso.

Por essa definição, Sustentabilidade significa, na prática, conquistar, ao mesmo tempo (não um antes e os outros mais tarde), o crescimento econômico, a igualdade social e a proteção ambiental, assegurando, dessa forma, a perenidade da organização e da sociedade.

Para as empresas e organizações, a resultante desse conceito é que, ao adotar o valor da Sustentabilidade, a sociedade passa a avaliar a qualidade das organizações e a julgá-las não só por seu resultado operacional, como tradicionalmente se fazia (no caso das empresas, o lucro; no caso da força armada, a vitória e o sucesso de suas campanhas e manobras), mas também pela maneira como a empresa, a organização ou a força armada conseguiu esse lucro ou essa vitória.

Ou seja, pela forma eficiente como utilizou os recursos financeiros, materiais e humanos; e pela qualidade de seu relacionamento com a sociedade e com o meio ambiente.

E por que a Sustentabilidade se tornou um valor tão importante, aos olhos da sociedade?

Na minha maneira de ver, isso aconteceu porque gradualmente, ao longo das últimas décadas, a sociedade conquistou uma capacidade maior do que jamais teve, de fiscalizar o comportamento das empresas, dos governos, dos parlamentares, dos agentes, instituições e organizações públicas (como as forças armadas), dos partidos políticos – de todos nós, enfim.

Essa nova capacidade de fiscalização da sociedade também motivou o aumento das demandas, das exigências da sociedade sobre o comportamento de todas as organizações.

Esse processo de aumento da fiscalização e a ampliação das demandas da sociedade ocorreu sob o impulso de alguns vetores principais, que têm impacto tanto sobre as empresas como sobre as organizações públicas, inclusive o Exército e são comentados nos parágrafos que se seguem.

O primeiro desses vetores é a democracia: vivemos um grau de liberdade de expressão do pensamento sem precedentes no Brasil, tanto em amplitude como em duração cronológica. Por isso, aliás, sempre digo que Relações Públicas é a profissão da democracia, porque é a única que só em ambiente democrático pode ser praticada em plenitude.

Outro vetor é o paroxismo da Comunicação e das Telecomunicações: tudo hoje é instantâneo, global, intensíssimo, interativo, com muito mais agentes e atores. E os mais jovens, os “nativos da era digital” são um tipo novo de gente, bem diferente dos mais antigos. Esse processo é tão revolucionário que os estudiosos têm grande dificuldade em mapeá-lo e diagnosticá-lo.

Graças a essa abundância de Comunicação e Telecomunicações, a informação passou para as mãos do povo. E é interessante observar que tanto os manifestantes que agitam politicamente o Oriente Médio em luta pela democracia, quanto os torcedores de times de futebol no Brasil que combinam suas brigas, utilizam a mesma ferramenta das redes sociais para combinar seus encontros.

E os sites de petições e abaixo-assinados conseguem dezenas, centenas de milhares de assinaturas em poucos dias.

Para as organizações privadas e públicas, um resultado de tudo isso é que a clássica figura do porta-voz único torna-se obsoleta. Porque, com o acesso às redes sociais, todos os membros dessas organizações podem agora comunicar publicamente informações e opiniões sobre ela.

A propósito, recentemente apareceu na internet um filme feito na Fundação Casa de São Paulo (sucessora da antiga FEBEM), mostrando menores detidos que cantavam musicas elogiosas à organização criminosa PCC, o que provocou a instauração de inquérito para descobrir quem teria autorizado tal filmagem. Ora, é óbvio que ninguém a autorizou; foi feita por alguém, empunhando um celular, que se tornou assim um incômodo “porta-voz não-autorizado” da Fundação Casa.

Outro episódio desse tipo foi o de um funcionário da embaixada americana em Moscou, Ryan Fogle, acusado de espionagem pelo governo russo devido às informações pessoais que publicou no Facebook sobre sua vida pessoal e social (onde almoçou, suas viagens etc.), o que faz pensar que esse rapaz tem grande vocação para o desastrado Agente 86 do velho seriado de televisão...

Há inúmeras comprovações concretas de graves consequências desse novo ambiente de explosão comunicativa que vivemos, como a divulgação de informações secretas do governo americano; o caso da cyber-espionagem pela NSA-National Security Agency na correspondência eletrônica pessoal de membros de governos e cidadãos comuns; e a intercomunicação dos integrantes das passeatas e manifestações, aqui no Brasil, que começaram em Junho e continuam acontecendo até hoje, num ensaio de democracia direta que passa ao largo dos representantes formais da população.

Recente artigo publicado em uma revista internacional sugeriu que as redes sociais criam um ambiente global de café do século 19, onde os frequentadores trocavam notícias e comentários pessoalmente, como hoje no Twitter. (Aliás, vale conjecturar se, quando toda a humanidade estiver conectada a essas redes, cujo conteúdo agora parece interessar a tanta gente, elas não passarão a ser como as calçadas das ruas, em que ninguém quer saber o que os demais transeuntes estão pensando...)

Para quem precisa fazer chegar suas mensagens institucionais ou comerciais ao público, como os profissionais de Relações Públicas e os publicitários, um desafio sem precedentes é a convergência dos meios que a internet gera, criando concorrência permanente entre todos os veículos de comunicação social do planeta, concentrados agora em uma mesma tela de computador e disputando a atenção das pessoas.

Em tal ambiente, cada cidadão digital procura o veículo que prefere em determinado momento, com uma possibilidade de escolha imensamente maior do que jamais teve a seu dispor – e isso sem contar os e-mails, as pesquisas no Google, os jogos eletrônicos. Por isso os profissionais da Comunicação precisam evoluir do tradicional conceito de “atingir o público-alvo” para a busca de pessoas individuais, porque cada uma delas nos procura se quiser, não o contrario.

Como faremos então com que nossas mensagens cheguem às pessoas que visamos? Minha impressão é de que caminharemos para uma situação em que essas pessoas só visitarão nossos veículos se se sentirem atraídas pelos valores de nossas organizações, sejam elas privadas ou públicas.

No caso das empresas, uma das consequências desse cruzamento de democracia e liberdade de expressão com uma possibilidade de comunicação sem limites é a evolução do conceito de seu “papel social”. Nos manuais de Relações Públicas escritos na primeira metade do século 20, esse “papel social” significava pagar impostos, gerar empregos, dialogar com a sociedade e atuar em filantropia.

Na década de 1990 surgiu o conceito de responsabilidade social empresarial, que, além de tudo isso, requer postura e comportamento ético, além de atuação direta na sociedade para melhorar a qualidade de vida das pessoas. E no início deste século 21 surgiu o conceito de sustentabilidade empresarial, sob a pressão das crescentes exigências e necessidades da sociedade.

Paralelamente, no caso da força armada (notadamente do Exército, que atua em terra, perto das pessoas e das sociedades), está ocorrendo a evolução do conceito tradicional do soldado apenas guerreiro para o do soldado também agente social, como veremos mais adiante.

No universo político, os vetores a que me referi estão causando também o “esfarelamento” dos partidos, que não conseguem estabelecer comunicação eficaz com os cidadãos, paralelamente ao crescimento da importância institucional das ONGs.                          

A total ubiquidade da Comunicação e das Telecomunicações faz cogitar também de um possível futuro em que a democracia representativa seja substituída por uma democracia mais direta. Na Islândia, por exemplo, a nova Constituição foi elaborada com base em contribuições de todos os cidadãos, pela internet.

E aqui no Brasil, se já utilizamos a internet para preencher e enviar os formulários do Imposto de Renda, por que não passaremos, no futuro, a participar diretamente do processo legislativo, mediante plebiscitos frequentes sobre os mais variados assuntos?

Um quadro assim, que hoje parece ficção científica, a meu ver talvez não esteja tão distante. E, com o derretimento das ideologias e o crescimento do pragmatismo, provavelmente elegeremos para os cargos públicos cada vez mais gestores, síndicos, em lugar de “salvadores da pátria”, heróis.

Esses vetores (liberdade de expressão, avanço das telecomunicações e o novo papel social das organizações), com seus corolários de aumento da fiscalização e das demandas da sociedade, elevam a um patamar sem precedentes a importância da função de Relações Públicas dentro das empresas e das organizações.

Mas em contrapartida elevam imensamente a responsabilidade dos profissionais de RP. Hoje não é suficiente conhecer as ferramentas desse ofício. O profissional precisa ser a “cara política” da empresa ou entidade pública em que atua, para conceituar e pilotar a inserção positiva da organização (e de sua marca) na sociedade.

(Por favor observem que eu uso essa expressão “cara política” não no sentido de política partidária, ou de interferência nos processos governamentais ou parlamentares – e sim nos termos da definição do dicionário “Aurélio”, de “habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados” .)

Pensemos sobre alguns aspectos que realçam a atual importância da função de Relações Públicas e a responsabilidade ampliada de seus profissionais:

Quando se fala em empresas, a democracia, combinada com as grandes carências sociais de um país gigante como o Brasil (que daqui a dez anos será o dobro do que é hoje em termos de seu peso específico no mundo) está a exigir que as empresas, na sua interface com a sociedade, não se limitem a “relacionar-se” e “dialogar” com ela, como ensinavam os antigos manuais de RP, mas passem mesmo a “interferir” na sociedade, com medidas destinadas a promover seu desenvolvimento sustentável.



O famoso “papel social da empresa”, que antigamente consistia basicamente em pagar impostos e gerar empregos, hoje abrange a implementação de medidas e investimentos concretos, para melhorar a qualidade de vida das pessoas nas regiões em que se constrói uma fábrica, uma usina hidrelétrica, ou qualquer grande projeto.

Por exemplo, os contratos de financiamento do BNDES já possuem cláusulas que requerem que as empresas por ele financiadas empenhem recursos econômicos, tecnológicos e humanos em projetos de desenvolvimento regional sustentável que vão além da mitigação dos impactos causados por suas instalações.

Ao mesmo tempo, a fiscalização da sociedade sobre o comportamento ético das empresas e de todas as organizações se intensificou radicalmente, aumentando fortemente a necessidade de transparência.

E “imprensa” hoje não é apenas o jornal que vai sair amanhã aqui na cidade onde eu moro, mas os inúmeros blogs e redes sociais globais, que põem no ar instantaneamente denúncias fundadas e infundadas, opiniões responsáveis e irresponsáveis, petições e abaixo-assinados – e também brincadeiras e piadas – que circulam mundialmente com a velocidade da luz.

Cada vez mais pessoas têm acesso à informação – e muitas vezes fora do alcance da “grande mídia” (portanto dos grupos que tradicionalmente sempre formaram a opinião pública). No Brasil dezenas de milhões de pessoas saíram da pobreza e outras tantas chegaram à classe média, com maior acesso à internet.

Num ambiente assim, todos os profissionais, especialmente mas não só os de Relações Públicas, precisam ser, cada vez mais, a “cara política da empresa ou organização”, no sentido de ser ele ou ela quem deve liderar, para dentro e para fora da empresa ou organização, a qualidade da inserção dessa  entidade na sociedade.

Para isso esse profissional não pode ser apenas um escrivinhador de press releases, nem somente amiguinho de meia dúzia de jornalistas ou de deputados.

Mais que “estrategista dos relacionamentos”, o responsável pelo trabalho de Relações Públicas precisa ser um pouco sociólogo e antropólogo, ter informação e sensibilidade políticas e culturais, comportamento ético a toda prova, conhecimento jurídico e financeiro – tudo isso além de ser bom comunicador.

Os atuais profissionais de Relações Públicas precisam também saber dialogar de maneira inteligente e produtiva com os outros setores da empresa ou da organização pública em que trabalham – jurídico, de recursos humanos, industrial, financeiro (e, no Exército, com os oficiais, subtenentes, sargentos, funcionários civis e demais integrantes do publico interno)  – para serem vistos como elementos construtivos e valiosos pelo conjunto da organização – e não como “jornalistas domesticados”, ou como “artistas frustrados”, animais estranhos ao ambiente organizacional. Caso contrário, não conseguirão “vender” internamente seus pontos de vista e suas recomendações.

Por sua vez, o executivo financeiro, de engenharia, de recursos humanos, do departamento jurídico das empresas, da mesma forma que o oficial, o sargento, o subtenente da força armada, também precisa conhecer os mecanismos, as ferramentas e as “cascas de banana” da comunicação, pois ela alcança hoje níveis de importância que obrigam a esse conhecimento.                                    

E porque a boa comunicação cria valor, gera diferencial e influencia positivamente as relações. E isso é bom e importante para a empresa e para o Exército e para cada profissional individualmente.

Finalmente, tanto no ambiente empresarial como no Exército, os responsáveis por Relações Públicas e Comunicação precisam estar bem familiarizados e sintonizados com os vários aspectos da Sustentabilidade.

Na empresa, por ser a Sustentabilidade a melhor bandeira institucional que ela pode adotar, porque legitima socialmente o lucro, que passa a ser considerado também como alavanca para o progresso social e para a excelência ambiental – e não como um benefício apenas para os acionistas da empresa.

E no Exército porque a bandeira da Sustentabilidade legitima socialmente suas operações, ao demonstrar que elas estão realmente a serviço dos cidadãos – e não apenas de seus comandantes, do governo ou do interesse geopolítico do País.

A propósito, para ilustrar esse aspecto, talvez se possa pensar no trabalho dos soldados brasileiros nas UPPs do Rio de Janeiro e na força de paz no Haiti, por exemplo.

E sobre a imbricação entre Relações Públicas e Sustentabilidade, vale a pena considerar alguns aspectos, com base em observações de James Grunig, professor emérito do Departamento de Comunicação da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Segundo ele:

·       A familiarização do profissional de RP com a sustentabilidade como valor das organizações é fundamental para assegurar a sustentabilidade da própria função de Relações Públicas;

·       Sustentabilidade não pode ser exclusividade da área de RP: é dever de todos, em todas as áreas e o tempo todo. Mas deve ser liderada (ou co-liderada) pela área de Relações Públicas;

·       Porque sustentabilidade é a evolução do conceito de responsabilidade social, que é, desde sempre, o coração da profissão de Relações Públicas;

·       Sustentabilidade é também a melhor bandeira política para todas as organizações, porque legitima socialmente o lucro da empresa privada, as operações militares e a intervenção dessas organizações na natureza.

O que mudou, para os executivos de empresas, com a adoção do conceito de sustentabilidade na estratégia empresarial? Vejamos a seguir uma lista de nove dessas mudanças, publicada pela revista IdeiaSocial. (E aqui fica um desafio para que os senhores, ao refletir sobre esta nossa conversa de hoje, preparem uma lista semelhante para os militares).

1.  Desenvolvimento de uma visão de mundo mais abrangente e inclusiva
2.  Maior conformidade entre as crenças pessoais e as das empresas
3.  Melhoria no ambiente de trabalho, com base na instalação de uma cultura de respeito, sensibilidade e justiça
4.  Maior satisfação profissional por trabalhar numa empresa com causa, compromisso e interesse sociais
5.  Aperfeiçoamento da capacidade de “olhar para fora da empresa”
6.  Aumento da sensibilidade para interagir com comunidades
7.  Aprofundamento da visão de negócios e de seu impacto
8.  Compreensão maior sobre a importância do trabalho em rede e das alianças intersetoriais
9.  Aumento da consciência sobre seu papel no alinhamento de valores, práticas e estratégias

E me parece que a mais evidente demonstração de que esse caminho da Sustentabilidade é irretratável e sem alternativas, tanto para empresas como para outras organizações, inclusive as militares, está na matéria de capa da edição da revista The Economist (talvez a mais importante do mundo) de 25 de Outubro de 2007. Essa matéria, sob o titulo “Cérebros, não balas”, traz à luz e analisa a necessidade do Exército norte-americano se dedicar mais à construção que à destruição, em territórios ocupados como o Iraque e o Afeganistão.

O texto se baseia em um manual sobre contra-insurgência, escrito, entre outros, pelo general David Petraeus – que comandou as tropas americanas na guerra no Iraque – onde se afirma que “contra-insurgência é trabalho social armado”, que requer mais cérebro que músculos, mais paciência que violência.

Nessa nova visão da ocupação militar, o soldado exemplar não deve ser um guerreiro destruidor, um exterminador de ficção científica, mas um intelectual preparado para “um nível universitário de guerra”, preferivelmente um lingüista, com conhecimento de História e Antropologia, capaz de colaborar para construir as nações ocupadas.

Em outras palavras, no que diz respeito às nações ocupadas pelo poder militar, o verbo construir passa a ser mais importante que o verbo destruir. E até uma expressão típica da nossa literatura sobre Sustentabilidade é utilizada pelo Pentágono nessa nova postura: É necessário, dizem os militares americanos, “capacitar os parceiros”.

Os raciocínios que embasaram esse manual se tornam ainda mais atuais para nós quando o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz, que liderou o contingente da ONU no Haiti, assumiu recentemente o comando da Missão das Nações Unidas de Estabilização na República Democrática do Congo, que não é apenas de ocupação pacífica, mas inclui a necessidade de atacar e perseguir guerrilheiros, como informou o correspondente do Serviço Brasileiro da BBC, que foi enviado especial ao Congo para cobrir o início do trabalho do general Santos Cruz.

Vale a pena ler aqui alguns parágrafos do manual do general Petraeus, publicado pelo Exército dos Estados Unidos em Dezembro de 2006, “aprovado para conhecimento público e para distribuição ilimitada”, que, para quem quiser conhecê-lo melhor, está no endereço http://www.fas.org/irp/doddir/army/fm3-24.pdf .

“Uma campanha assim – diz o manual – exige que os soldados empreguem uma conjugação de atividades de combate (com as quais estão familiarizados) e de competências mais características de organizações não-militares.

Os pesos relativos desses dois tipos de atividades variam dependendo da situação encontrada em cada local.

Isso não é fácil. Os lideres, em todos os níveis, precisam ajustar constantemente sua estratégia, para assegurar que seus executores estejam sempre prontos, a cada dia,

·       para ser recebidos com um aperto de mão, ou com uma granada de mão;
·       para assumir missões que só nos últimos anos passaram a ser mais frequentes em nossos centros de treinamento de combate;
·       para ser construtores de nações, além de também guerreiros;
·       para ajudar a re-estabelecer instituições e forças locais de segurança;
·       para auxiliar na reconstrução da infraestrutura e dos serviços básicos;
·       e para promover o estabelecimento de governança local e do império da lei.

O rol dessas tarefas é longo e demanda ampla coordenação e cooperação com uma miríade de órgãos intergovernamentais, locais e internacionais. Na verdade as responsabilidades dos lideres em uma campanha de contra-insurgência são assustadoras.

Portanto a tarefa de conduzir uma campanha bem-sucedida de contra-insurgência requer uma tropa flexível, adaptável, liderada por comandantes ágeis, bem-informados e culturalmente astutos.”


Ora, como mostram esses parágrafos que acabamos de ler, se a noção de que a Sustentabilidade, o trabalho com parceiros, a atuação comunitária, a construção da cidadania e das nações, em regiões ocupadas militarmente – se essa noção passa a ser adotada até mesmo nos mais altos escalões da maior força armada que o mundo já viu, organizada para invadir e destruir, parece claro que tanto os empresários e executivos empresariais – notadamente os que atuam em Assuntos Institucionais e Relações Públicas – como os lideres militares que abraçarem a Sustentabilidade como valor essencial estarão no caminho certo.

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