Aos hesitantes
bem-intencionados, que ainda sequer cogitam votar em Jair Bolsonaro neste
segundo turno, sugiro que se informem sobre os métodos que Hitler utilizou para
se eleger ao poder na Alemanha, após uma tentativa frustrada de golpe - e todos sabem em que deu essa trágica fase da História mundial. Descrições
de suas táticas abundam na internet.
Com base em
ideais nacionalistas e militaristas e explorando o desencanto e o desespero
popular com a miserável situação alemã após a derrota na primeira guerra mundial, explorando também o temor de avanço dos comunistas, o desconhecido ex-cabo austríaco do
exército germânico entrou em 1919 para um minúsculo Partido dos Trabalhadores
Alemães, que pouco depois se tornou o Partido Nazista (NSDAP).
Contando com o
pressuroso apoio da elite do país – empresários, igreja etc. – e várias
manobras políticas, o partideco de Hitler cresceu rapidamente no parlamento e,
em 1933, ele se tornou chanceler, dissolvendo a seguir o gabinete ministerial
que havia sido criado pelos conservadores para tentar controla-lo.
No mesmo ano
os demais partidos foram banidos do parlamento ou se dissolveram e um
decreto-lei declarou a Alemanha um país de partido único. Além disso o
parlamento transferiu seus poderes de criar legislação para o Executivo,
chefiado por Hitler, o homem que viria a encabeçar o extermínio de seis milhões
de judeus e criaria o slogan “Deutschland Über Alles” (Alemanha Acima de
Todos), tristemente evocado em lemas atuais de Donald Trump nos Estados Unidos e Jair
Bolsonaro aqui no Brasil.
O clima em que
ocorreram as eleições legislativas de 1933 é descrito pela Deutsche
Welle, principal agência de notícias da Alemanha. Eis o texto, que dispensa comentários:
“Eleições alemãs de 1933 transcorreram em clima de
intimidação
No
dia 5 março de 1933 o Reich alemão escolhia seu novo parlamento. Mas prisões
arbitrárias e terror praticado pelos nazistas durante a campanha eleitoral
fizeram do último pleito parcialmente democrático uma farsa.
Em fevereiro de 1933, toda a Alemanha se encontrava em campanha
eleitoral. O povo estava convocado para definir a nova composição do Reichstag,
o parlamento nacional. No entanto, apenas um único assunto dominava o debate
político: o recente incêndio da sede do Reichstag e a suposta tentativa de
golpe por parte dos comunistas.
O chanceler do Reich Adolf Hitler e outras lideranças
nacional-socialistas exploraram esse tema em suas campanhas, atiçando
propositalmente o temor de uma revolução comunista. Numa onda de terror nunca
antes vista, Hitler e seus asseclas disseminavam o medo e o pânico por todo o
país.
País
em estado de exceção
No país reinava o estado de exceção político, desde o incêndio do
Reichstag, em 27 de fevereiro de 1933. Seguranças altamente armados patrulhavam
prédios públicos, a polícia procurava por suspeitos nos trens de passageiros.
Nas ruas, soldados da tropa de ataque nazista SA caçavam os inimigos do regime,
com a ajuda de policiais.
E achar inimigos era coisa fácil. Pois, desde que o presidente do Reich,
Paul von Hindenburg, assinara o documento que ficou conhecido como
"Decreto do Incêndio do Reichstag", os direitos fundamentais garantidos
pela Constituição estavam suspensos e nulos.
Os comunistas eram o principal alvo dos nacional-socialistas. O
patrimônio do Partido Comunista da Alemanha (KPD) fora confiscado e os jornais
comunistas sumariamente proibidos. Milhares de partidários do KPD, mas também
social-democratas, foram presos ou obrigados a fugir para o exterior.
"Aqui não tenho que exercer justiça, mas apenas que exterminar e
erradicar", afirmava Hermann Göring, então chefe da polícia prussiana.
Hitler
em todos os lares
Ao mesmo tempo, os nazistas ativavam sua máquina de propaganda. O
ministro Joseph Goebbels declarou o 5 de março, data das eleições, "Dia da
Nação que Desperta". Enquanto se atiçava o medo de um golpe comunista,
Adolf Hitler era estilizado como salvador da pátria. Com grande sucesso:
"É preciso apoiá-lo agora em sua causa, com todos os meios", exortava
em Hamburgo uma adepta do NSDAP, o partido nacional-socialista.
Os nazistas empregavam todos os meios modernos em sua campanha
eleitoral. No rádio, no cinema ou por via aérea, Hitler era onipresente em todo
o território do Reich. Em 4 de março, um dia antes da fatídica votação, ele
proferiu um discurso final em Kaliningrado, Prússia Oriental.
Por sua vez, os adversários políticos, como os social-democratas, tinham
sua campanha eleitoral dificultada com violência: membros da SA invadiam seus
comícios e espancavam os participantes, enquanto a polícia assistia impassível.
Redações dos jornais de oposição eram devastadas e destruídas. Esses atos de
terror deixaram um saldo de 69 mortos.
O
"popular" Hitler
No dia 5 de março de 1933, um domingo, hordas de alemães se deslocaram
rumo às urnas. A participação nas eleições foi elevada, quase 89%. Hitler
contava com uma vitória esmagadora, mas os alemães iriam decepcioná-lo: apenas
43,9% dos votos foram para o NSDAP, o que significava 288 dos 647 assentos do
Reichstag.
Embora os nazistas tivessem obtido um crescimento de quase 11% em
relação ao pleito anterior, também dessa vez o percentual atingido não bastava
que governassem sozinhos. Além disso, apesar de todo o terror pré-eleições, o
KPD saiu com 12,3% dos votos, e os social-democratas do SPD com admiráveis
18,3%.
No entanto, a oposição não conseguiu tirar das mãos dos nazistas o poder
parlamentar. Junto com seus outros parceiros, os nazistas dispunham de maioria
estável para governar. E Hitler ainda tinha a seu favor o fato de o partido ter
sido eleito com votos de todas as classes e camadas sociais. O NSDAP se tornara
um verdadeiro Volkspartei,
um "partido do povo". Grande parte dos antigos abstinentes haviam
agora apoiado a legenda nazista.
Caráter
puramente simbólico
Mas o resultado das últimas eleições do Reich alemão ainda meio livres,
embora antecedidas por um terror sem precedentes, só teve significado
simbólico: os mandatos dos deputados comunistas foram cassados, e o SPD viria a
ser proibido pouco depois. Enquanto isso, o regime nazista ampliava sua
política de terror, que em breve se estenderia também aos judeus.
Em seu diário, o então professor alemão de origem judaica Victor
Klemperer descreveu com resignação o ocaso da moral e da liberdade dos alemães,
que se dava praticamente sem qualquer resistência: "É surpreendente como
tudo pode desmoronar tão rapidamente".
Afinal de contas, no pleito do 5 de
março, os alemães ainda haviam podido escolher entre diferentes facções
políticas. Nas eleições seguintes, em novembro de 1933, só havia um único
partido: o dos nazistas.”
Na estrutura militaresca criada mais tarde por
Hitler surgiu a figura do Gauleiter, uma pequena autoridade, que podia ser um
chefe político de província, de bairro, de quarteirão, ou algum deputado anônimo. Todos eles se viam, claro, como
miniaturas de Führer e procuravam imitá-lo.
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