“Nessas hora (sic) a gente não pensa, só desaba”. Foi, num
telejornal, o comentário de uma senhora moradora de favela atingida por alguma
dessas tragédias que recorrentemente vitimam seus habitantes.
É essa também a minha reação figadal aos disparates e
cafajestadas a que somos submetidos quase diariamente por quem deveria governar
tendo em vista o interesse “do povo, pelo povo e para o povo”, não apenas para
cultivar uma charanga de boçais e papalvos. (Se bem que seria demais querer que
um tipo como aquele tivesse alguma ideia do significado do Discurso de
Gettysburg, ou dos valores, capacidade de liderança e governo de Abraham
Lincoln).
Por isso não tenho conseguido escrever muito neste blog, pois
a) a primeira reflexão é que com esse tipo de gente não se discute, já que, com tais figuras,
não há um mesmo denominador de racionalidade mínimo; e b) parafraseando a
senhora lá da favela, “Nessas hora (sic) não adianta pensar e argumentar; só dá
vontade de xingar”.
Aí alguém dirá: “Essa situação em que estamos é culpa da
democracia, pois o povo elegeu esse sujeito, com sua horda”. Mas o voto
democrático, através da Historia e pelo mundo afora – apesar de às vezes errar –
também acertou muito. Churchill liderou a vitória sobre o nazismo. Lincoln
acabou com a escravidão nos EUA. Mandela extinguiu o apartheid na África do
Sul. Gandhi encabeçou a luta pela independência da India e se elegeu presidente
do Congresso Nacional Indiano. Além do que, como disse Churchill, “a democracia
é o pior dos regimes, mas não há outro melhor”.
Haverá quem argumente: “Isso é culpa da internet, que dá voz
e palco a imbecis e primatas de todo tipo”. Realmente a internet amplifica
falas cretinas – mas pode servir igualmente para difundir vozes razoáveis e
qualificadas.
A partir dessas constatações, a conclusão óbvia é que a
responsabilidade é nossa, de cada um de nós, não da democracia, nem da
internet, nem de satanás, nem do terraplanismo. Mesmo que não tenhamos os
milhões de seguidores conquistados pelo populismo rastaquera e por gente que
publica seus próprios nudes (físicos ou intelectuais).
Se, porém, julgarmos que, canonicamente, vozes de bom-senso
não serão ouvidas, porque os frequentadores de redes sociais só se interessam
por soluções mágicas, grosserias e ofensas, conversas escandalosas, fake-news e
boatos, famosos de fancaria – ou por temor de ataques –estaremos abrindo mão do
bom combate, abdicando do direito de pregar o que julgamos correto e assim
entregando os despojos, de bandeja, à estupidez e à inépcia.
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