quarta-feira, 15 de abril de 2020

Falar, ou emudecer?


“Nessas hora (sic) a gente não pensa, só desaba”. Foi, num telejornal, o comentário de uma senhora moradora de favela atingida por alguma dessas tragédias que recorrentemente vitimam seus habitantes.   

É essa também a minha reação figadal aos disparates e cafajestadas a que somos submetidos quase diariamente por quem deveria governar tendo em vista o interesse “do povo, pelo povo e para o povo”, não apenas para cultivar uma charanga de boçais e papalvos. (Se bem que seria demais querer que um tipo como aquele tivesse alguma ideia do significado do Discurso de Gettysburg, ou dos valores, capacidade de liderança e governo de Abraham Lincoln).

Por isso não tenho conseguido escrever muito neste blog, pois a) a primeira reflexão é que com esse tipo de gente não se discute, já que, com tais figuras, não há um mesmo denominador de racionalidade mínimo; e b) parafraseando a senhora lá da favela, “Nessas hora (sic) não adianta pensar e argumentar; só dá vontade de xingar”.

Aí alguém dirá: “Essa situação em que estamos é culpa da democracia, pois o povo elegeu esse sujeito, com sua horda”. Mas o voto democrático, através da Historia e pelo mundo afora – apesar de às vezes errar – também acertou muito. Churchill liderou a vitória sobre o nazismo. Lincoln acabou com a escravidão nos EUA. Mandela extinguiu o apartheid na África do Sul. Gandhi encabeçou a luta pela independência da India e se elegeu presidente do Congresso Nacional Indiano. Além do que, como disse Churchill, “a democracia é o pior dos regimes, mas não há outro melhor”.

Haverá quem argumente: “Isso é culpa da internet, que dá voz e palco a imbecis e primatas de todo tipo”. Realmente a internet amplifica falas cretinas – mas pode servir igualmente para difundir vozes razoáveis e qualificadas.

A partir dessas constatações, a conclusão óbvia é que a responsabilidade é nossa, de cada um de nós, não da democracia, nem da internet, nem de satanás, nem do terraplanismo. Mesmo que não tenhamos os milhões de seguidores conquistados pelo populismo rastaquera e por gente que publica seus próprios nudes (físicos ou intelectuais).

Se, porém, julgarmos que, canonicamente, vozes de bom-senso não serão ouvidas, porque os frequentadores de redes sociais só se interessam por soluções mágicas, grosserias e ofensas, conversas escandalosas, fake-news e boatos, famosos de fancaria – ou por temor de ataques –estaremos abrindo mão do bom combate, abdicando do direito de pregar o que julgamos correto e assim entregando os despojos, de bandeja, à estupidez e à inépcia.


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