Dias atrás ouvi um comentário que me deixou surpreendido pela desinformação (na melhor hipótese) ou má fé (na pior) de quem o fez. “Direitos humanos – disse a pessoa – não tem nada a ver com sustentabilidade. São coisas diferentes.”
É para mim tão óbvio que não há sociedade sustentável sem o respeito
aos direitos humanos, que parece difícil que alguém tenha uma visão tão
desacertada.
No entanto, como os clichês têm o mau costume de colocar
conceitos em caixinhas separadas na cabeça das pessoas, aquela afirmação me fez
pensar que o autor da infeliz frase talvez não seja o único a ter essa
impressão.
Pode ser que haja até quem acredite que sustentabilidade é "in" porque é moderna e está na moda. E que direitos humanos é coisa de gente contestadora e que gosta de fazer marola.
Apesar da sustentabilidade se caracterizar pelos três pilares
(conservação ambiental, sucesso econômico e desenvolvimento social), muitos ainda
acham que esse conceito se aplica somente, ou com grande predominância, ao meio
ambiente.
Outros, entre os quais possivelmente esteja o autor daquela
frase acima, pensam no desenvolvimento social como apoio financeiro a
comunidades no entorno de suas unidades operacionais – notadamente em
atividades de educação, saúde e melhora da qualidade de vida da população – mas
se esquecem de que todas essas áreas são abrangidas por uma dimensão política
(no sentido mais elevado e nobre dessa palavra) pelos direitos humanos.
Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
proclamada pela ONU há nada menos que 64 anos, todas as pessoas têm direito,
entre outras coisas, à vida, liberdade, dignidade, segurança pessoal, presunção
de inocência, liberdade de locomoção, propriedade, liberdade de opinião e de
expressão, votar e ser votadas em eleições livres, periódicas e legítimas.
Além disso a Declaração condena violências como a servidão,
tortura e tratamento cruel, discriminação de qualquer tipo e detenção
arbitrária.
É impossível não reconhecer que tais direitos e condenações compõem
o cerne do alicerce da democracia. E o corolário dessa constatação é que é impossível separar
a sustentabilidade dos direitos humanos. Os dois conceitos precisam habitar a
mesma caixinha nos cérebros de todos. Um não existe sem o outro.