Bari
Weiss, articulista e editora americana que já trabalhou no Wall Street Journal
e, há três anos, era editora de opinião e autora de artigos sobre cultura e
política no New York Times, acaba de se demitir do jornal, publicando em seu
blog uma contundente carta, cuja íntegra, que vale a pena ler, está em https://www.bariweiss.com/resignation-letter
Eleita
no ano passado pelo jornal israelense Jerusalem Post como a sétima pessoa judia
mais influente do mundo, Weiss – que se declara de centro-esquerda – decidiu
sair do jornal por se sentir patrulhada, perseguida e atacada por extremistas.
“Fui
contratada – escreveu – com o objetivo de trazer vozes que de outra forma não
apareceriam nas [nossas] páginas: novos autores, pessoas de centro,
conservadores e outros que não pensariam naturalmente no The Times como sua
casa. A razão desse esforço era clara: a falha do jornal em prever o resultado
da eleição de 2016 significava que ele não tinha uma percepção firme do país
que cobre. [...] A prioridade na editoria de Opinião era ajudar a corrigir essa
deficiência.”
No
entanto, disse mais adiante: “O Twitter não está no cabeçalho do The New York
Times. Mas o Twitter se tornou, em última análise, seu editor. Na medida em que
a ética e o comportamento dessa plataforma passaram a ser os mesmos do jornal,
o próprio jornal se tornou cada vez mais um espaço de performances. Matérias
são escolhidas e apresentadas de maneira a satisfazer a mais estreita das
audiências, em vez de possibilitar que um público curioso leia sobre o mundo e
tire suas próprias conclusões. Sempre aprendi que os jornalistas têm de
escrever o primeiro rascunho da Historia. Agora a própria Historia é mais uma
coisa efêmera moldada para se adaptar às necessidades de uma narrativa
pré-determinada.”
Consta
que Julio César teria sido o primeiro a publicar um jornal, por volta de 70
A.C. Desde então e até as últimas décadas, jornalistas e especialmente donos de
jornais sempre foram os intermediários entre as notícias e os leitores. O
próprio New York Times, há 115 anos, tem como lema “All the news that´s fit to
print” (Todas as noticias que é adequado publicar).
“É
adequado publicar” segundo quem? Segundo os jornalistas e os donos do jornal,
claro: os árbitros do que os leitores devem ou não ficar sabendo – notícias e
opiniões – e com que destaque.
Só
que a internet acabou como esse tradicional “monopólio”de intermediação. Todo mundo virou
noticiador, opinador, editor, fotógrafo. O que permite também a proliferação de
patrulhadores, atacadores, perseguidores.
Jornais
e jornalistas se contorcem para sair desse beco (que não tem saída) e continuar
a nortear a opinião pública, enquanto anônimos com ou sem agendas próprias e as
novas figuras de “influenciadores digitais” – que incluem incontáveis
mediocridades, manipuladores, faturadores etc., até robôs – conquistam milhões de seguidores pelo planeta.
Bari
Weiss, como toda a imprensa profissional do mundo, foi apanhada no contra-pé
por esse processo transicional, que, por outro lado, beneficia tipos como
Trump, Bolsonaro, Boris Johnson e outros do mesmo jaez.
Diz
ela, em sua carta: “As lições que deveriam ter sido absorvidas após a eleição
[de Trump] – lições sobre a importância de compreender outros americanos, a
necessidade de resistir ao tribalismo e a centralidade do livre intercâmbio de
ideias, para uma sociedade democrática – não foram aprendidas. Em vez disso,
surgiu um novo consenso na imprensa, mas talvez especialmente neste jornal: que
a verdade não é um processo de descobrimento coletivo, mas uma ortodoxia já
conhecida por uns poucos iluminados cuja função é informar todas as outras
pessoas.”
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